Senado aprovou marco regulatório da IA: aqui estão os erros e os acertos
O Senado aprovou na noite desta quinta-feira (9) o PL que regulamenta o desenvolvimento e adoção da inteligência artificial no país.
Após anos de discussões, a proposta aprovada é similar à regulação da União Europeia ao propor uma abordagem baseada em riscos.
Esta é uma estratégia interessante porque desenha uma regulação assimétrica, o que quer dizer que nem todas as IAs terão o mesmo peso regulatório. Tudo vai depender do potencial risco de cada uma.
Há dois anos, quando comecei a participar como especialista convidado nas audiências públicas do Senado, meu principal objetivo era esclarecer que o termo “inteligência artificial” abrange uma ampla variedade de modelos, cada um com finalidades distintas.
Minha preocupação era que a regulação não conseguisse diferenciar adequadamente esses modelos e suas aplicações, resultando em uma proposta limitada ou ineficaz.
A partir de uma pergunta retórica, eu buscava explicar o desafio que tínhamos pela frente: o que um sistema de tradução, um jogo de videogame, um modelo de diagnóstico médico e o sistema que destrava o celular com sua face têm em comum?
Simplesmente o fato de chamá-los de IA, embora sejam modelos tecnicamente distintos, com propósitos variados e riscos específicos.
Com a abordagem baseada em risco, a proposta de regulação encaminha uma parte desse problema.
Antes de lançar um produto de IA no mercado, as empresas precisam de uma avaliação preliminar para determinar o grau de risco do seu sistema.
A lei veta o desenvolvimento e o uso dos sistemas de riscos excessivos, como os sistemas de armas autônomas e IAs que explorem a vulnerabilidade das pessoas para induzir comportamentos que causem dano à saúde.
Os sistemas de alto risco, por sua vez, demandam um nível maior de responsabilidade.
Alguns exemplos são os sistemas de IA que atuam em infraestruturas críticas, como rede de eletricidade e abastecimento de água, IAs que auxiliem na seleção de estudantes para ingresso em universidades, e os veículos autônomos.
Um aspecto favorável do texto é que a lei não se aplica para atividades de pesquisas e nem para fins exclusivamente pessoais.
O foco acaba sendo atividades econômicas, o que faz sentido para que possamos avançar o conhecimento científico no país ao mesmo tempo que criamos algumas salvaguardas para as aplicações comerciais.
Porém, um ponto do texto que trouxe uma disputa de poder está relacionado com os direitos autorais.
A lei define que os titulares de direitos de autor e conexos podem proibir o uso de seus conteúdos para o treinamento de IAs comerciais.
O texto ainda prevê a remuneração pelo uso de obras e avança em uma área cinzenta em que as empresas se posicionavam para usar conteúdos protegidos.
Agora, resta saber como tudo isso vai funcionar na prática.
Mesmo após a aprovação do texto no Senado, ainda não existe um consenso sobre a necessidade de uma regulação da IA neste momento.
Alguns especialistas defendem que a regulação imediata irá dificultar o desenvolvimento da tecnologia, enquanto outros argumentam que regular a IA quando estiver mais difundida será muito difícil.
A situação atual me lembra do “Dilema de Collingridge”. Descrito no livro “The Social Control of Technology”, o autor trata dessas dificuldades de se propor aspectos regulatórios para tecnologias emergentes.
Se tentarmos regular logo no início, corremos o risco de sufocar o desenvolvimento tecnológico com regras inadequadas, criadas antes de compreendermos todo o potencial da tecnologia.
Por outro lado, se demorarmos demais, a tecnologia se entranha profundamente na sociedade, enquanto seus proprietários se tornam ainda mais fortalecidos política e economicamente.
A história recente nos ensina sobre esse dilema.
Deixamos as plataformas de redes sociais correrem soltas porque não entendíamos os seus efeitos na sociedade. No entanto, agora que temos evidências dos problemas, ficou muito mais difícil propor qualquer tipo de regulação.
A inteligência artificial é uma tecnologia que tem potencial para trazer consequências – positivas e negativas – inimagináveis para a sociedade.
Ainda que seja uma área que avança rapidamente, propor uma regulação com foco nos direitos das pessoas passa a ser fundamental.
O texto aprovado no Senado ainda não é o ideal, vai precisar de ajustes, mas o Brasil se posiciona no cenário internacional com um país que está buscando encontrar o ‘controle social da tecnologia’.
‘Bolha da IA’: startups correm risco de crise parecida com a dos anos 2000?
A empolgação com a inteligência artificial generativa tem levado a uma enorme valorização das empresas do setor e exigido investimentos cada vez maiores em busca da superinteligência. Mas ao mesmo tempo, algumas dessas startups enfrentam problemas com seus produtos e sofrem prejuízos, acendendo um sinal de alerta.
Dona do ChatGPT, que deu início ao boom da IA generativa, a OpenAI deve alcançar US$ 3,7 bilhões em receitas ao final de 2024, o equivalente a R$ 22,1 bilhões pela cotação atual. Por outro lado, estima-se perdas de US$ 5 bilhões (R$ 29,8 bilhões), que tendem a aumentar no próximo ano, conforme previsão do The New York Times.
Para diminuir o impacto em seus cofres, a desenvolvedora obteve um aporte de US$ 6,6 bilhões (R$ 39,4 bilhões) após uma nova rodada de investimentos, em outubro, com a participação de Microsoft, Nvidia e Softbank, entre outros investidores. Depois disso, ela passou a ser avaliada em US$ 157 bilhões (R$ 937 bilhões).
Esse movimento — lançamento de um produto inovador, crescimento acelerado, investimentos vultosos e ações batendo recordes — tem feito especialistas compararem o momento atual com o que aconteceu entre o final da década de 1990 e o início dos anos 2000. Estaríamos vivenciando uma bolha da IA, semelhante à “bolha ponto com”?
O que foi a bolha da internet?
No contexto econômico, uma bolha se refere a situações nas quais o preço de um ativo excede, de forma exagerada, seu valor intrínseco, podendo resultar em prejuízos gigantescos quando ela estourar. Isso ocorreu com empresas que tinham negócios relacionados à internet na passagem do século XX para o XXI.
A internet começou a crescer na primeira metade dos anos 1990, quando saiu dos ambientes acadêmico, militar e governamental. Na parte final da década, ela se tornou bastante popular, levando ao surgimento de empresas interessadas em aproveitar a demanda por PCs e serviços online para lucrar — várias delas abriram o capital sem gerar lucros.
Em meio a muita euforia, financiamentos, confiança no crescimento e enorme especulação, as ações das empresas de tecnologia chegaram a valorizar 600% em apenas um dia. Com isso, o índice Nasdaq Composite foi a 5.132 pontos no dia 10 de março de 2000, sua máxima histórica até aquele momento.
O cenário começou a mudar pouco tempo depois, quando investidores passarama notar que o valor das ações crescia de maneira injustificada. Diante do medo de perder dinheiro, eles começaram a vender seus papéis desesperadamente, com a Nasdaq registrando uma desvalorização de aproximadamente 76% em 2001.
Como consequência da queda das ações, muitas empresas foram à falência mesmo com a internet se tornando indispensável, movimento que ficou conhecido como o estouro da bolha da internet. Estima-se que pelo menos 500 empresas que trabalhavam de alguma forma com o ambiente digital tenham quebrado no período.
Apesar das centenas de falências causadas pela bolha financeira que afetou o setor tecnológico no início dos anos 2000, muitas companhias sobreviveram e passaram por grandes reestruturações, reavaliando os modelos adotados para se adequar à nova realidade. Amazon, PayPal e eBay foram algumas delas.
Apesar de as avaliações das ações e a empolgação dos investidores de IA não terem alcançado os mesmos picos do início deste século, o momento atual apresenta algumas semelhanças, como observa a Reuters, citando a Nvidia. A principal fabricante de chips de IA viu suas ações subirem 4.300% nos últimos anos.
Essa situação é comparada com a da Cisco, cujos papéis valorizaram 4.500% antes de alcançar o pico em 2000. A marca de equipamentos de rede era apontada como essencial para a evolução da internet, mas suas ações caíram 86% após a bolha da internete ela precisou lidar com uma forte concorrência.
Outro fator citado por quem acredita que estamos em uma bolha financeira é o alto custo dos chatbots, com gastos estimados em US$ 1 trilhão (R$ 6,05 trilhões) nos próximos cinco anos. As desenvolvedoras precisarão convencer muito mais usuários a assinar seus serviços para fechar a conta, mas isso será difícil, de acordo com o jornalista de tecnologia, Casey Newton.
FAB aposta em Inteligência Artificial para eficiência, segurança e inovação tecnológica
Reconhecendo os benefícios da Inteligência Artificial (IA), o Estado-Maior da Aeronáutica (EMAER) aprovou o projeto de implementação do primeiro Laboratório de Inteligência Artificial da Força Aérea Brasileira (FAB). Aprovado em novembro de 2024, o projeto proposto pelo Centro de Computação da Aeronáutica de São José dos Campos (CCA-SJ) será financiado pelo Plano de Investimentos de Royalties do Comando da Aeronáutica (COMAER), com foco em Modelos de Linguagem de Grande Escala (Large Language Models – LLM). O objetivo é transformar operações e aprimorar a eficiência em áreas essenciais, como a tomada de decisões, manutenção de aeronaves, simulação de cenários e otimização logística.
Localizado em São José dos Campos (SP), o CCA-SJ beneficia-se de sua proximidade com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), fomentando parcerias estratégicas. A colaboração com o Instituto de Logística da Aeronáutica (ILA) também será crucial para o avanço do uso de IA no setor logístico.
O projeto de inovação, pioneiro no âmbito do Comando-Geral de Apoio (COMGAP), envolve a colaboração com o Centro de Computação da Aeronáutica do Rio de Janeiro (CCA-RJ), no uso do Sistema Integrado de Logística de Material e de Serviços (SILOMS). Os resultados também serão compartilhados com o Computação da Aeronáutica de Brasília (CCA-BR) e o Centro de Defesa Cibernética da Aeronáutica (CDCAER), promovendo a integração de capacidades em cyberdefesa.
Para o Chefe do CCA-SJ, Coronel Aviador Josemir Ribeiro Lima, a aprovação do projeto marca um momento relevante para a modernização tecnológica no COMAER. “O foco inicial será a otimização de sistemas como o SILOMS e o SIGADAER, essenciais para a gestão logística e administrativa da FAB. Entretanto, o alcance do projeto vai muito além: ele pavimenta o caminho para a aplicação de Inteligência Artificial em diversas outras áreas. Além da infraestrutura computacional a ser adquirida, esta iniciativa será fundamental para o desenvolvimento de expertise interna, para a formação de especialistas e para o fortalecimento de parcerias estratégicas, promovendo eficiência e inovação contínuas”, destacou.
Investimento de R$ 6,5 Milhões para Potencializar a IA nas Operações da FAB
A Diretoria de Tecnologia da Informação da Aeronáutica (DTI), comprometida com a adoção de tecnologias de ponta, inicia um novo ciclo de inovação ao implementar Inteligência Artificial (IA) em sistemas administrativos e operacionais, por meio do CCA-SJ.
Com um aporte de R$ 6.594.771,20, o projeto visa, principalmente, a aquisição de infraestrutura computacional, executando modelos de alta performance localmente, nas dependências da própria Força Aérea, em seu Núcleo Corporativo de TI, no DCTA. A utilização desses aceleradores permitirá à FAB explorar todo o potencial da IA garantindo agilidade e precisão nas operações. Com isso, a Força Aérea Brasileira se posiciona na vanguarda da tecnologia militar, com autonomia e soberania sobre seus dados, promovendo inovação e segurança em suas missões.
Potencialidades Futuras do Uso de Inteligência Artificial no COMAER
Com o desenvolvimento de IA, a FAB será capaz de tomar decisões mais rápidas e precisas ao processar grandes volumes de dados em tempo real. Isso proporcionará uma resposta mais ágil a situações complexas, como o gerenciamento de missões e operações de combate. A IA também será aplicada para monitorar e prever falhas nas aeronaves, melhorando a disponibilidade e reduzindo custos de manutenção.
Simulações de combate poderão ser viabilizadas, permitindo o treinamento de pilotos e equipes em cenários seguros e econômicos, sem o uso de combustível ou emissão de carbono, até mesmo durante sua formação. Além disso, a automação de tarefas repetitivas, como a análise de imagens, otimizará os recursos humanos da FAB, permitindo que os operadores se concentrem em atividades mais estratégicas.
Em termos de segurança, a IA auxiliará na detecção de ameaças, garantindo maior precisão na proteção de aeronaves e bases aéreas. No campo da logística, os algoritmos de IA otimizarão o planejamento de rotas, alocação de recursos e gestão de suprimentos, aumentando a eficiência no apoio às missões da FAB.
O chip quântico do Google que resolve em 5 minutos problema que levaria 10 septilhões de anos
O Google apresentou um novo chip que, segundo a empresa, leva cinco minutos para resolver um problema que atualmente os supercomputadores mais rápidos do mundo levariam dez septilhões (ou 10.000.000.000.000.000.000.000.000) de anos para completar.
O chip é o mais recente desenvolvimento em um campo conhecido como computação quântica, que busca usar os princípios da física de partículas para criar um novo tipo de computador incrivelmente poderoso.
O Google afirma que seu novo chip quântico, chamado Willow, incorpora “avanços” importantes” e “pavimenta o caminho para um computador quântico útil em grande escala”.
No entanto, especialistas dizem que o Willow é, por enquanto, um dispositivo essencialmente experimental, o que significa que um computador quântico poderoso o suficiente para resolver uma ampla gama de problemas do mundo real ainda está a anos (e bilhões de dólares) de distância.
Os computadores quânticos funcionam de uma maneira fundamentalmente diferente dos telefones ou notebooks tradicionais.
Eles aproveitam a mecânica quântica (o comportamento estranho das partículas ultrapequenas) para resolver problemas muito mais rapidamente do que os computadores convencionais.
Espera-se que os computadores quânticos possam usar essa capacidade para acelerar drasticamente processos complexos, como a criação de novos medicamentos.
Também há preocupações de que possam ser usados para fins criminosos, como quebrar alguns tipos de criptografia utilizados para proteger dados sensíveis.
Em fevereiro, a Apple anunciou que a criptografia que protege os chats do iMessage está sendo tornada “à prova quântica” para evitar que computadores quânticos potentes do futuro consigam decifrá-la.
Hartmut Neven, que lidera o laboratório de inteligência artificial quântica do Google responsável pela criação do Willow, descreve a si mesmo como o “otimista-chefe” do projeto.
Ele disse à BBC que o Willow seria usado em algumas aplicações práticas, mas se recusou, por enquanto, a dar mais detalhes.
No entanto, Neven afirmou que um chip como esse, capaz de realizar aplicações comerciais, não estará disponível antes do final da década.
Inicialmente, essas aplicações envolveriam a simulação de sistemas onde os efeitos quânticos são importantes.
“Por exemplo, isso é relevante no design de reatores de fusão nuclear, na compreensão do funcionamento de medicamentos e no desenvolvimento farmacêutico, além do desenvolvimento de baterias melhores para automóveis e uma longa lista de tarefas semelhantes”, explicou.
pesquisadores criam roda flexível que se adapta a pisos acidentados e sobe até escadas
Imagine uma cadeira de rodas equipada com rodas flexíveis e adaptáveis para superar todos os tipos de obstáculos, de meio-fios a lombadas, e até subir escadas.
Ou talvez um veículo de entrega não tripulado usando as mesmas rodas que sobe as escadas para entregar alimentos e mantimentos direto na sua porta.
É isso que pesquisadores do Instituto Coreano de Máquinas e Materiais, da Coreia do Sul, imaginam para sua roda, que pode rolar sobre obstáculos um pouco maiores que a altura de seu raio.
Inspirada pela tensão das gotículas de água na superfície, ela passa de sólida para fluida quando encontra impedimentos.
A roda flexível consiste em um arco externo de uma corrente e uma série de fios de raios passando pelo cubo. A rigidez dos raios – e, portanto, da roda – é regulada automaticamente por um sensor, que reage ao terreno percorrido.
A equipe de Song demonstrou à Reuters um protótipo de cadeira de rodas montada em rodas flexíveis, com um boneco sentado, enquanto subia escadas com degraus de 18 cm. A equipe também testou um dispositivo montado com a roda em velocidades de até 30 km/h.
Outras aplicações possíveis incluem robôs que espionam o inimigo no campo de batalha.
A equipe do instituto sul-coreano também espera que as rodas flexíveis sejam eventualmente usadas em robôs de duas e quatro pernas, atualmente limitados em eficiência de movimento e suscetíveis à vibração.
Com a inovação, esses robôs poderiam transportar cargas que precisam de movimento estável em ambientes industriais.
“O objetivo é tornar isso viável para velocidades de até 100 km/h, ou a velocidade de um carro médio”, afirma Song Sung-hyuk, pesquisador principal do instituto da Coreia do Sul.
Rodas desenvolvidas para um propósito semelhante, como pneus sem ar, têm flexibilidade, mas são mais limitadas em sua capacidade de superar obstáculos, disse Song, que é membro da equipe de pesquisa de robótica de IA do Instituto Coreano de Máquinas e Materiais.