Você sabe o que é open finance? O termo será adotado pelo Banco Central em substituição ao conceito de open banking, pois a instituição pretende focar não apenas nos bancos, mas na ampliação da inovação para um sistema financeiro aberto como um todo.
Mas, ainda que o conceito tenha começado a ser usado pelo mercado, há muitas dúvidas sobre ele. Você saberia dizer quais são as diferenças práticas entre open banking e open finance? Como essa mudança afeta a sua empresa?
Para esclarecer essas dúvidas, conversamos com Carlos Augusto de Oliveira, diretor de tecnologia da Associação Brasileira de Bancos (ABBC) e investidor-anjo, para entender a evolução do open banking, e como essa mudança impacta no dia a dia das pessoas.
1. Qual a diferença entre open finance e open banking?
Carlos: é uma tendência internacional. Estamos falando do sistema financeiro abrir as informações dos seus produtos bancários. Essas informações são do cliente, são dados da conta, saldo, extrato, movimentação, possibilidade de fazer pagamentos por meio de outras plataformas… Estamos falando basicamente do uso da conta corrente do cliente e de produtos tipicamente bancários, como crédito e pagamentos. Mas, aqui no Brasil, particularmente, o sistema financeiro já está bastante integrado por meio dos bancos múltiplos, que oferecem outros produtos, como seguros, investimentos, previdência, câmbio, em outros países isso não necessariamente é provido pelas mesmas instituições. Como aqui no Brasil isso já acontece, houve uma extensão natural para aumentar a experiência do cliente e oferecer, de fato, liberdade, autonomia e modelos que dessem uma experiência completa para o usuário. A ideia foi expandir do tradicional circuito de open banking, envolvendo produtos bancários, para produtos de outras indústrias com objetivo de proporcionar essa mesma experiência. Isso é uma tendência que vai acontecer no Brasil já dentro do escopo regulatório, incorporando integração com seguros, investimentos, cambio, etc. E eu diria que é uma tendência maior ainda, indo além do mercado financeiro no geral para outras indústrias, porque essa integração traz muitos benefícios para o cliente.
2. Quais seriam os benefícios do open finance para o cliente e para as empresas?
Carlos: para o cliente o open finance parte de uma premissa muito importante de que os dados pertencem ao cliente e não ao banco que está custodiando aquela informação, processando aqueles dados. Isso parece óbvio, mas foi uma quebra de paradigma muito grande porque os bancos, por definição, até por uma questão de sigilo bancário, protegiam esses dados do acesso de outros players de maneira muito forte. E é óbvio que essa é uma vantagem competitiva muito grande: se eu me relaciono com o banco durante muitos anos, o banco detém todo o histórico que permite o entendimento do meu perfil e do meu comportamento e com isso gera-se uma barreira de saída para poder migrar para outro banco. Todo mundo sofre quando precisa encerrar a conta e abrir em outro banco. Então, o grande benefício é justamente eu autorizar que esses dados trafeguem para outra instituição com a qual eu queria me relacionar, se eu quiser comparar preços, por exemplo, se eu quiser tomar crédito, posso comparar as taxas entre os bancos, mas para isso, as instituições do meu interesse precisam ter acesso aos meus dados, saber se sou um bom pagador, minha renda, se minhas contas estão em dia, etc. Uma outra análise é, se eu tenho conta em vários lugares seria muito bacana se eu pudesse concentrar isso tudo e ter uma visão completa de tudo que tenho, pois isso me permite saber se estou gerenciando bem e me oferece insights sobre melhores formas de investir. O open banking permite isso, porque agora eu posso levar os dados para onde eu quiser, posso autorizar uma plataforma a ter todos os dados de uma maneira muito simples, sem precisar necessariamente migrar o meu relacionamento. Então, essa flexibilidade permite que o cliente seja inclusive mais exigente e escolha onde quer estar, de quais benefícios quer desfrutar; e isso gera uma competição muito maior para que ofereça tanto melhor preço quanto melhor relacionamento. Para o cliente vai ser um salto extraordinário de benefícios e certamente uma melhora da indústria como um todo devido a competitividade. Pelo lado das instituições que podem ver como ameaça esse novo cenário, na medida que precisam encantar o cliente para não perde-lo para outra plataforma, também existem vantagens. Para o banco, primeiro que ele pode atrair novos clientes, pode dar experiência consolidada ao cliente mesmo que ele faça relacionamento com outros bancos também. Além disso, como o open banking padroniza as interfaces e a forma de se relacionar com as instituições, fica muito mais simples para os bancos fazerem parcerias e trazerem novas experiências para as suas plataformas de uma forma muito mais eficiente, e esse é um grande benefício. Com essas comunicações padronizadas, o banco não precisa desenvolver tudo para agradar o seu cliente, se existe um produto em que o banco não é bom e antes era obrigado a fazer para oferecer para reter o cliente, com o novo cenário, dado que não pode mais impedir que o cliente saia, ele pode fazer uma parceria com outra instituição que é a mais especializada naquele produto, de uma maneira muito mais simples e rápida.
3. O custo dos serviços bancários e do crédito tendem a diminuir com a entrada do open banking em nosso sistema bancário?
Carlos: Sim, existem dois pontos importantes nesta questão. Por um lado aumenta a competição, então, ao aumentar a competição os bancos serão mais transparentes com o cliente, porque agora ele vai poder comparar em bases iguais, checar todas as informações. E com competição o preço dos produtos tende a cair A queda dos preços vai ser uma tendência natural na medida em que os clientes experimentem o open banking. O outro ponto é que como o sistema como um todo vai ser mais eficiente, porque as conexões vão ser mais fáceis, também vai ficar mais fácil operar nesse mercado. Então, fintechs vão ter vantagem competitiva para atrair novos clientes de maneira mais barata, conseguir atrair um cliente bom é caro porque você precisa convencer ele de fechar a conta, levar os recursos da outra instituição para a sua, e no open banking não precisa. Então como vai ser mais barato operar nesse sistema, também vai ser possível baixar os preços, com tarifas menores, inserções de taxas, etc. Mas é uma tendência natural na medida em que a competição vai se instalando, que os cliente vão utilizando o open banking, mas não é um big bang, não é um botão que no dia seguinte vai forçar a queda dos preços, o mercado vai se ajustar em função desse aumento de competição que vai surgir em decorrência da possibilidade de modelos inovadores que vão acabar sendo estruturados.
4. Que serviços ficarão facilitados – ou eliminados – a partir da adoção do open banking no dia a dia do correntista brasileiro?
Carlos: Hoje, digamos que você recebe salário por um banco, mas por algum motivo não gosta dele, você só tem a conta porque recebe o salário lá. Qual é o trabalho que você tem? Receber o salário, transferir para o outro banco que você escolheu para poder fazer seus pagamentos. Isso é uma realidade hoje, então para você poder usar a plataforma que você gosta, precisa transferir seus salários e ficar controlando as duas movimentações. Com o open banking isso vai facilitar muito, porque não necessariamente você precisa transferir, pode continuar com seu saldo no banco x e movimentar pela plataforma que você gosta, você não precisa ter esse trabalho. Inclusive você consegue pagar suas contas por meio desse terceiro que vai poder debitar onde você tem a conta. Esse é um primeiro benefício, uma simplificação que será obtida, não vai mais precisar ficar levando ou trazendo recursos em um outro lugar. Um outro ponto é que, por exemplo, eu tenho dinheiro para investir e quero colocar onde tem a melhor experiência para mim , então vou procurar uma corretora, que não é o banco que eu tenho; se quero crédito, vou à procura de uma fintech que tem uma taxa bem baixa. Administrar isso tudo é uma loucura hoje, é muito ruim a experiência, precisa logar em várias contas diferentes, precisa lembrar de transferir o dinheiro na corretora, etc. O open banking consegue não só dar uma visão integrada de tudo isso como permite movimentar tudo isso em um lugar só. São novos serviços e facilidades que vão existir para o cliente. E se alguém constrói uma plataforma que consegue olhar isso tudo, ela pode também achar onde tem o melhor produto. Então imagina o seguinte: eu quero o melhor tipo de investimento para o meu perfil, hoje é impossível alguém me dar a resposta, só quem pode te dar essa resposta é o banco onde tenho meu dinheiro, mas a resposta vai ser com base no melhor produto que ele tem, eu não vou ter a melhor resposta do mercado. Se existir uma plataforma que concentre isso tudo, ela vai poder varrer o mercado e me trazer a melhor opção com base no meu perfil, no meu comportamento, na quantidade de recursos que tenho ou necessito, entendendo a minha necessidade. Então o open banking vem para simplificar muito a nossa vida, com a integração com Pagamentos Instantâneos (PIX) e possibilidade de maximizar a aplicação de inteligência artificial, robô advisor, assistente pessoal, etc. Você vê que a brincadeira pode ir longe em termos de gerenciamento, assessoria e consultoria para o cliente de uma forma conveniente se ele quiser optar por usar o open banking.
Fonte: matéria retirada do Portal Economia SC